Há cinco anos, com a permissão da nossa Ancestralidade, no dia 14 de maio de 2016, em um lindo sábado de Sol, na cidade de João Pessoa/PB, ainda sob o impacto do golpe político, ELAS, as mulheres negras, descendentes de Dandara, Margarida, Zeferina, Ana, Carolina, Teresa, Josefa, Gertrudes, Dadá, Lélia, Aqualtune, Maria, Joaquina e de tantas outras, em continuidade à Marcha das Mulheres Negras/2015, se reencontraram, se acolheram e se reconheceram em um “ENCONTRO PRECIOSO”.
Com o consentimento de Olorum, as energias dos Orixás e as bênçãos das Àyabás, reafirmaram que a mobilização contra o racismo, as violências, as LBTsfobias, o genocídio, o racismo religioso… deveria continuar!
E com convicção reafirmaram que a defesa da justiça social, dos direitos humanos, da Democracia, da equidade, da liberdade e do Bem Viver devia permanecer firme pelas mãos, luta e ousadia das mulheres negras na Paraíba. Decidiram assim, se constituir como uma COLETIVA. Sim, a primeira COLETIVA no estado da Paraíba.
Na leveza do momento, sob os ventos de Oyá, banhada nas águas de Iemanjá, na convergência de sentimentos e confluência de ideias, NASCEU! A ABAYOMI[1] – COLETIVA[2] DE MULHERES NEGRAS NA PARAÍBA.
Esta constituição não se deu sozinha. Tivemos um terreno fértil para tal, com o acolhimento (político) e incentivador da Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba, o apoio estrutural do NEABI/UFPB – Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas e a força de ativistas negras com atuação em diferentes movimentos sociais.
Não sabíamos o que iria acontecer, mas, sabíamos exatamente onde queríamos chegar. Sonhávamos em fortalecer a atuação contra o racismo no Estado, capilarizar nossas ações para territórios tradicionais e desenvolver parcerias com outros movimentos, articulações e redes de mulheres negras em nível local, regional e nacional.
A coletiva foi sendo desenhada ao longo desses anos, como se dá a feitura de uma Abayomi com mãos, coração e cores. A ABAYOMI é uma coletiva composta por mulheres negras de diferentes campos de ativismo, profissões, gerações e orientação sexual. É um espaço autônomo de articulação, formação e participação política. Afirmativo da luta, história, ancestralidade e resistência das mulheres negras, com sua atuação pautada no Feminismo Negro e sem vinculação partidária.
Entre altos e baixos fomos firmando nossos pés nesse terreno, ampliando a articulação com diversas organizações, instituições, coletivos e grupos específicos e mistos de mulheres e feministas. Participando da construção das ações, a exemplo do Enegrecer do 8 de Março, o “25 de Julho”, que está indo para a sua XXIII Edição na Paraíba e Agendas do Novembro Negro.
No ano de 2017 passamos a integrar a Rede de Mulheres Negras do Nordeste. Uma experiência incrível afirmativa da luta em âmbito regional! E em 2019 passamos a integrar a Articulação de Mulheres Negras Brasileiras – AMNB, o que consideramos uma honra e, ao mesmo tempo, grande responsabilidade. Por estarmos num espaço de ativismo de mulheres negras que vêm movimentando as estruturas contra o racismo no Brasil há muito tempo. Um espaço que reafirma que “nossos passos vêm de longe”.
Ainda em 2019, tivemos o nosso primeiro projeto aprovado pelo Baobá – Fundo para Equidade Racial, o Obirim Dudu – Movimentando as Estruturas contra o Racismo na Paraíba, nos possibilitando realizar ações de enfrentamento ao racismo, fortalecimento institucional e de visibilidade de referências negras no estado. Um Marco em nossa trajetória.
No entanto, a Pandemia do Coronavírus, iniciada em 2020, nos levou ao distanciamento presencial exigindo assim, mudanças na execução do projeto e no ativismo, sendo necessária a realização de ações por meios virtuais, com a utilização das novas tecnologias de comunicação. Realizamos cursos, capacitações, premiações, mobilização e denúncias contra o racismo e diferentes formas de opressão. Isto possibilitou uma maior capilarização das nossas ações, alcançando mulheres de diversas regiões da Paraíba, como também de diferentes estados do Brasil.
Compreendendo a necessidade de atuar para minimizar os impactos da Pandemia, foi possível, através do referido projeto, chegar a quatro territórios tradicionais: Mulheres de Terreiro, Quilombolas, Ribeirinhas e Marisqueiras e desenvolver ações preventivas sobre a COVID – 19 com a distribuição de máscaras e produtos de higiene e de cestas básicas para as mulheres como suporte material.
Nesses 05 anos de existência reafirmamos o compromisso com a luta em defesa do bem viver e das vidas negras, o desejo de seguir em parceria com os diferentes movimentos sociais e com os valores civilizatórios afro brasileiros, a partir dos compromissos descritos/assumidos na nossa AGBEKALE (Carta de Princípios).
A todas as mulheres negras que participaram dessa construção em algum momento, agradecemos. E a todas que permanecem fazendo a Abayomi – PB, adúpé,
A Abayomi não para. A história ainda está em construção… A organização é exatamente o que seu nome significa. Nesse percurso, teve que se reinventar, se rasgar em retalhos, tecer o que foi possível para continuar inteira, por isso seu sobrenome é RESISTÊNCIA!
[1] Abayomi – nome dado às bonecas de tecido preto, feitas sem cola, sem costura, sem olhos, sem estrutura interna, apenas com nós, dobraduras e cortes ou rasgos. Conta à história que, “para acalentar seus filhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte que realizava o transporte de escravos entre África e Brasil – as mães africanas rasgavam retalhos de suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, ficaram conhecidas como Abayomi, termo que significa ‘Encontro precioso’, em Iorubá, uma das maiores etnias do continente africano”. Disponível em: http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/. Acesso em: 14, MAI, 2021. Obs.: A escolha do nome se deu a partir da sugestão de uma das integrantes, Priscila Estevão, uma Ekedi que quis fazer alusão à história de resistência das mulheres negras, assim como a história das bonecas pretas ao Orixá Oyá.
[2] Coletiva. A escolha do nome Coletiva se deu por sugestão de uma das integrantes, Durvalina Rodrigues Lima, considerando que a organização é formada por mulheres negras feministas e com isto não caberia nominá-la com o artigo masculino.
— Durvalina Rodrigues Lima e Terlúcia Silva.
5 anos de lutas conquistas e afirmação política. Parabéns a Abayomi- Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba!
Me orgulha ter participado da construção da Coletiva Abayomi/PB. A luta é pelo seu crescimento e fortalecimento para atingir os seus objetivos de combate e fim do racismo e valorização do povo negro.