Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba Uncategorized PodPretas Paraíba estreia no Youtube com temporada especial sobre as interfaces do racismo na comunicação

PodPretas Paraíba estreia no Youtube com temporada especial sobre as interfaces do racismo na comunicação


O mês de junho chegou cheio de novidades. Agora a Abayomi PB está no Youtube! Para começar com pé direito o “PodPretas PB” entrevistou três mulheres negras para uma série com três episódios especiais. Foram debates potentes sobre as interfaces do racismo na comunicação, com as pesquisadoras Flávia Ribeiro, Fernanda Rodrigues e Débora Pio, todas especialistas em cibertecnologia.

No primeiro episódio, buscamos entender qual o “impacto do racismo nas redes sociais e como a tecnologia amplifica a discriminação racial”. Para isso, entrevistamos a mestre em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM- UFPA), e ativista no Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, da Rede de Mulheres Negras do Pará, da Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira e da Rede Nacional de Ciberativistas Negras, Flávia Ribeiro.

O racismo nas redes sociais não é um fenômeno isolado, mas sim um reflexo da discriminação presente na sociedade como um todo, e com a popularização das mídias digitais, as atitudes racistas encontraram um novo espaço para se manifestar.

Nos últimos anos, as redes sociais se tornaram palco de um problema persistente e profundamente enraizado na sociedade brasileira: o racismo. Embora essas plataformas sejam frequentemente vistas como ferramentas de conexão e expressão, elas também têm amplificado a discriminação racial, perpetuando estereótipos e contribuindo para um ambiente virtual hostil, em especial para pessoas negras.

Nesse contexto, Flávia Ribeiro destaca que o algoritmo atua como agente amplificador do racismo. De acordo com a jornalista, algoritmos são projetados por pessoas brancas, geralmente homens brancos do sudeste do país, objetivando apenas maximizar o engajamento das pessoas nas redes, sem o compromisso com as reações emocionais que os conteúdos promovem. Isso inclui postagens sensacionalistas ou controversas, que frequentemente contêm discursos de ódio ou preconceito racial. Por isso, muitas vezes, conteúdos racistas podem receber maior visibilidade, sendo compartilhados amplamente e alcançando um público maior.

“O algoritmo não é uma tecnologia neutra. Na internet nós [pessoas negras] temos o mesmo terreno de disputa que temos fora dela. Temos que disputar as narrativas para que nossas pautas apareçam”, frisou.

Ribeiro chama atenção para conteúdos que são disseminados sem a devida regulação dos conglomerados que detém o controle dessas plataformas. Ela entende que há uma intenção mercadológica para que estes conteúdos sejam compartilhados, e ressalta a importância do usuário em colaborar denunciando os possíveis crimes.

É preciso saber diferenciar discurso de ódio de liberdade de expressão, e não naturalizar as ofensas que matam, disfarçado de opinião. Uma coisa é você dizer que não gosta de camiseta preta, outra coisa é você dizer que homessexual tem que morrer. Temos que diferenciar, pois banalizar essas atitudes têm provocado mortes”, destacou sobre os comentários ofensivos, memes racistas, xenofóbicos, capacitistas, homofóbicos e ataques direcionados a indivíduos de minorias étnicas que são cada dia mais comuns nas plataformas.

O conteúdo com Flávia Ribeiro pode ser acessado na íntegra através do link >PodPretas Paraíba – Racismo nas Redes Sociais (youtube.com)

O segundo episódio do PodPretas Paraíba chegou trazendo à tona uma discussão que escancara a atualização do racismo. A pergunta: “A inteligência artificial pode perpetuar o racismo?”, foi respondida pela doutoranda em Direito, Tecnociências e Interdisciplinaridade na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fernanda Rodrigues . Fernanda é coordenadora de pesquisa do Instituto de Referência em Internet e Sociedade, onde atua em advocacy na área de internet, sociedade e novas tecnologias, com foco para regulação de plataformas e inteligência artificial.

Segundo Rodrigues, a inteligência artificial (IA), apesar de suas promessas de inovação e eficiência, tem enfrentado críticas por perpetuar e até amplificar o racismo. Isso ocorre principalmente devido aos vieses presentes nos dados utilizados para treinar algoritmos. Se os dados históricos refletem preconceitos raciais, os sistemas de IA acabam replicando e reforçando esses mesmos preconceitos.

“Precisamos lembrar que o racismo é anterior a tecnologia, não foi criado por ela, mas, como um instrumento inserido na realidade por mãos humanas, em um mundo moldado pela supremacia branca, a tecnologia, a inteligência artificial vai fazer essa ordenação algorítimica racializada em detrimento de grupos minorizados, e pode sim reproduzir e até potencializar o racismo”.

Ela traz a perspectiva do pesquisador Tarcísio Silva para explicar que áreas como reconhecimento facial, a IA tem mostrado taxas de erro significativamente maiores para pessoas negras, resultando em discriminação e injustiças.

A pesquisadora reconhece que há um racismo algorítmico, e apesar do cenário desafiador, ela revela que há esforços significativos para combater o racismo nas redes sociais de um Coletivo de pesquisadores negros e negras que busca mitigar esse problema, incluindo a criação de diretrizes éticas e a implementação governamental de regulamentação e auditorias regulares de algoritmos. Entre as medidas entende-se que a responsabilidade por eliminar o racismo na IA não recai apenas sobre os desenvolvedores, mas também sobre a sociedade como um todo, que deve demandar transparência e justiça nos sistemas tecnológicos.

“Assim como temos esses ciclos discriminatórios,é necessário que a gente tenha um ciclo de medidas que vá atuar em todas as fases por onde esses vieses e problemas podem ser expressados por meio da IA”, frisou.

Para saber mais sobre o assunto, acesse a entrevista de Fernanda Rodrigues no nosso canal> PodPretas Paraíba: Racismo e Inteligência Artificial (youtube.com)

No último episódio da temporada especial do ‘PodPretas Paraíba’ sobre as “Interfaces do Racismo na Comunicação” o debate sobre as tecnologias de reconhecimento facial foi com a pesquisadora Débora Pio, doutoranda em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pesquisadora do MediaLab.UFRJ, membra da Rede Lavits, integrante do Coletivo Casa de Aya, mãe, ativista e entusiasta pelo banimento do reconhecimento facial.

O racismo nas redes sociais é um desafio complexo e multifacetado, amplificado pelas próprias tecnologias que deveriam facilitar a conexão e o entendimento entre as pessoas. No entanto, há por meio da tecnologia o que se pode chamar de atualização do racismo, que prejudica e até coloca em risco a vida das pessoas negras.

Uma das discussões mais relevantes é sobre a tecnologia de reconhecimento facial, sendo esta constante alvo de críticas e preocupações devido a suas implicações éticas e sociais. As pesquisas revelam que mulheres negras são as mais “reconhecidas” por sistema de reconhecimento facial, e, conforme aponta Pio, também já há estudos que demonstram que esses sistemas possuem vieses raciais significativos, apresentando taxas de erro muito mais altas para pessoas de negras, o que pode levar a falsas identificações e injustiças, como prisões errôneas e discriminação sistemática.

Além disso, o uso generalizado de reconhecimento facial representa uma ameaça à privacidade. A capacidade de monitorar e identificar indivíduos em tempo real sem seu consentimento pode resultar em vigilância em massa, violando direitos humanos fundamentais e promovendo um estado de constante monitoramento.

Ainda de acordo com Pio, a falta de regulamentação robusta e a potencial utilização dessa tecnologia pelos governos, em especial pelas autoridades policiais, são motivos de preocupação, pois vem colocando em risco liberdades civis. Dada a combinação de vieses intrínsecos, ameaças à privacidade e potencial para abuso, muitos especialistas e defensores dos direitos humanos argumentam que a melhor abordagem é banir definitivamente o uso de reconhecimento facial.

“Trazer o aspecto racial para o desenvolvimento tecnológico é necessário, ou continuaremos vendo a ampliação de preconceitos por meio delas. Criar tecnologias mais auditáveis, mais fiscalizadas pelas sociedade, para poder atuar sobre elas. As tecnologias precisam ser permeáveis, e no caso da tecnologia de reconhecimento facial defendemos o seu banimento”, enfatizou Pio.

Sobre esse e outros assuntos, você pode conferir na entrevista de Débora Pio. Basta acessar o link> (608) Racismo e Tecnologias de Reconhecimento Facial – YouTube

Vale ressaltar que a luta contra o racismo nas redes sociais também depende da responsabilidade dos usuários. Denunciar conteúdos racistas, apoiar vítimas de ataques online e promover discursos inclusivos são ações que todos nós podemos tomar para criar um ambiente virtual mais seguro e respeitoso. Além disso, a educação digital, ensinando a importância da empatia e do respeito às diferenças, é fundamental para transformar as redes sociais em espaços de convivência harmoniosa, livre de racismo e outras opressões.

Abayomi PB

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